Se cada um de nós tem um número extraordinário de ideias durante toda a vida, por que não ficamos cada vez mais confusos com o passar do tempo? Para Johann Friedrich Herbart (1776-1841), filósofo alemão e professor sucessor de Immanuel Kant em Königsberg, essa pergunta só poderia ser respondida se estudarmos a mente.
Para ele, as ideias eram indestrutíveis e sempre continuariam existindo na mente, no entanto algumas existiriam fora do alcance da percepção consciente. Essa ideia leva em conta as pequenas percepções, experimentadas quando nos lembramos de ter visto algo, como se um detalhe de alguma cena, embora não tivéssemos essa consciência naquele momento. O detalhe chama a atenção da mente, sem nos dar pistas da razão ou motivos dessa percepção.
Isso significa que percebemos as coisas e as armazenamos na memória, sem ter consciência de que estamos fazendo isso. A mente possui um sistema para diferenciar e guardar ideias. As ideias surgem pela combinação das informações dos sentidos. Vorsfellung é o termo, em alemão, usado para expressar o conceito de ideia, englobando pensamentos, imagens mentais e estados emocionais.
Todos os elementos, deste conceito de ideia, são dinâmicos, pois são capazes de transformar e interagir entre si. As ideias podem atrair e associar-se a outras ideias e sentimentos, ou repeli-los, como imãs. Ideias similares atraem-se e misturam-se dando origem a uma terceira ideia mais complexa. Ideias não similares podem continuar a existir sem associação, enfraquecendo com o tempo até serem finalmente relegadas à margem da consciência.
Se duas ideias se contradizem de maneira direta, ocorre uma “resistência” e “conceitos tornam-se forças quando resistem um ao outro”. Essas forças se repelem com tamanha energia que uma delas acaba sendo expulsa para fora da consciência, para um lugar chamado “estado de tendência”, que conhecemos como “inconsciente”.
Na tentativa de encontrar uma solução estrutural para o mecanismo de administração de ideias numa mente saudável, Herbart concluiu, erroneamente, que o inconsciente era como um depósito para ideias fracas e subjugadas. Mais tarde, Sigmund Freud enxergaria um sistema muito mais complexo e revelador com a psicanálise.
Em síntese, o pensamento de Herbart sobre o funcionamento da mente na produção das ideias é:
1º Experiências e sensações misturam-se, formando ideias.
2º Ideias similares podem coexistir ou misturar-se.
3º Ideias antagônicas resistem uma à outra e tornam-se forças conflitantes.
4º Uma ideia é obrigatoriamente favorecida em detrimento de outra.
5º A ideia favorecida permanece na consciência.
6º A ideia desfavorecida abandona a consciência, tornando-se uma ideia inconsciente.
Em um mundo cada vez mais interconectado, as informações contidas nas propagandas, na televisão e internet, induzem comportamentos que limitam nossa capacidade crítica, com um ideal de felicidade voltado apenas ao consumo.
Recebemos diariamente enormes spams de informações de marketing, relacionadas ao nosso comportamento e a única forma de combatermos esse entorpecimento comportamental é estimularmos nossa própria imaginação e pensamento para aumentarmos a autoconsciência.
Nos dias de hoje, essa habilidade é essencial para preservarmos nossas mentes. As pessoas têm medo do que há dentro delas, de seu inconsciente, mas talvez seja o único lugar que realmente vão encontrar o que necessitam para sua transformação. Isso significa que, às vezes, visitamos mais profundamente nosso depósito para ideias fracas, subjugadas e expulsas da consciência. Afinal de contas, até hoje não se sabe qual é o poder do nosso inconsciente, mas percebemos sua umbilical proximidade com nossas tendências comportamentais.