“Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty Dumpty num tom desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu quero que signifique – nem mais nem menos.” “A questão é”, disse Alice, “se você pode fazer uma palavra significar tantas coisas diferentes.” “A questão é” disse Humpty Dumpty, “saber quem manda. Isto é tudo.”
Lewis Carrol, Alice Através do Espelho
A linguagem usada na comunicação pelas palavras é o aspecto mais característico da espécie humana. Porém, a linguagem não é apenas comunicação, pois se manifesta como um veículo de crenças, valores, comportamentos e história.
Quando passamos a estudar uma língua estrangeira é praticamente impossível não voltarmos nossa atenção às curiosidades produzidas por algumas palavras e significações. A evolução histórica e social das línguas alcança todas as camadas da linguagem, da mais castiça a coloquial.
A palavra “whore”, prostituta, torna-se comum no século XI; no século XIV o termo ofensivo passou a ser “bitch”, cadela, passando, no século XVIII, para “cow”, vaca. O mesmo ocorreu nas palavras “darling”, querida, que é do século VIII e “honey”, mel, doçura do século XIV.
Nos aeroportos corre a piada da aeromoça que estava apresentando os dispositivos de segurança e dizia: “Onde estiver escrito ‘ push’, não puxe, empurre; onde estiver ´pull´, não pule, puxe; e quando ler ‘ exit’, não hesite, saia correndo”.
Essas confusões geram piadas e possivelmente situações constrangedoras se não ficarmos atentos aos falsos cognatos e as palavras em português que podem significar uma ofensa na língua estrangeira.
Em Portugal “bicha” significa fila e “pica” significa uma simples injeção. No Caribe, um inocente brinde acompanhado da onomatopeia “tim-tim” pode ser entendido como um convite para uma noite de amor. No Japão, o “tim-tim” refere-se à genitália masculina.
Esse fenômeno linguístico não é exclusividade dos brasileiros. Os italianos usam a palavra “fica” para referir-se à genitália feminina. Imagine o assombro causado nos italianos quando, nas lojas de conveniência brasileiras, encontram a indicação “fica aberta 24 horas”.
Na Colômbia o micro-ônibus é chamado de “buseta” (o “s” pronuncia-se como “ss”) que nada mais é do que a corruptela e diminutivo da palavra em inglês “bus”.
Em Cuba pedir uma pinga pode levar o “barman” a exibir suas partes íntimas.
Essas relações fonéticas ocorrem com inúmeras línguas estrangeiras. Conta-se a história de um casal, viajando pela Europa, que, cansados de consumir presunto durante a viagem, decidiram alterar sua alimentação na Alemanha. Pediram “schinken”, pensando que estavam pedindo frango, pois relacionaram com a palavra inglesa “chicken”. Quando o prato chegou, para a surpresa de ambos, tratava-se de presunto. A palavra “Schinken” traduzida para o português significa presunto.
Quando um italiano gritar “burro” durante o jantar, ele estará referindo-se à manteiga e não ao animal ou ao adjetivo. O mesmo ocorre quando um norte-americano refere-se ao seu prato como “exquisite”. Não significa que seu prato é estranho ou esquisito, mas sim sofisticado, refinado.
Se uma italiana gosta de roupa “morbida” (pronuncia-se como proparoxítona) não quer dizer que sua preferência é por roupas pretas, mas sim peças de roupa macias. E caso ela se refira a sua roupa como “liscio” (pronuncia-se “lixo”), saiba que ela estará apenas dizendo que suas roupas são lisas.
Se um argentino lhe disser para usar um “saco” durante a reunião, ele estará lhe recomendando o uso de paletó.
A tradução ao pé da letra também pode gerar constrangimentos. A palavra inglesa “rubber” significa borracha e também preservativo, por ser uma palavra ambígua, comporta várias significações.
A comunicação pelas palavras é a manifestação simbólica de crenças e valores num momento da história em um determinado lugar, onde a cultura e os costumes são construídos com a finalidade de tornar o fenômeno da comunicação cada vez mais preciso.
Quando misturamos pessoas e diferentes culturas, podemos extrair curiosidades que informam e divertem.